Anselmo
Vasconcellos é ator brasileiro, professor e escritor que há 11 anos organiza
Oficina Libre
na Escola Martins Pena – a escola de drama
mais antiga na América do Sul, no Rio de
Janeiro.
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Na Escola Martins Pena – a
escola de drama
mais antiga na América Latina, no Rio de
Janeiro, no momento, parece que não há vida. Desde
abril, os professores
e funcionários entraram em greve. O edifício
foi ocupado pelos alunos por dois meses -
até meados de julho.
Os alunos apoiaram professores e
funcionários em suas demandas por melhores condições de trabalho e
qualidade de ensino. Durante
vários meses, funcionários recebiam salários
parcelados e com muito atraso. E os estudantes
organizaram performances em que o ingresso – um
quilo de alimentos não-perecíveis – fosse destinado àqueles que estão ainda esperando o pagamento
por seu trabalho.
Assim, a tradicional oficina
de teatro, Oficina Libre,
aconteceu nessas condições.
Anselmo Vasconcellos é ator de mais de 50 longas-metragens – "Se segura, malandro!" e "Bar Esperança", de Hugo Carvalho, "A República dos Assassinos", de Miguel Faria Jr ., "Brasília 18%", de Nelson Pereira dos Santos, e, seguramente, com o mesmo número de telenovelas na Globo, professor e escritor, que, durante 11 anos, ministrou, quatro vezes por ano, a oficina – que tem duração de dois meses – em uma das salas da escola. O curso é financiado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em sua última turma, Anselmo trabalhou sem receber, para expressar solidariedade com a ocupação.
Eu entrei na Oficina Libre depois de ver um anúncio para "curso livre de teatro". A audição durou cinco minutos. E nesse tempo tive a oportunidade de recitar o meu desejo em conhecer o teatro por dentro, porque amo o teatro e escrevi sobre isso na Bulgária. Anselmo me disse que ensinava muito pouco o teatro clássico. Disse ainda que seria muito importante aproximar-me da cultura do Brasil. Anselmo explicou que os temas, os métodos e as práticas que ele ensina ainda não são tão populares no Brasil. Ensina “o que não aprendeu ainda e aprende junto com os participantes da oficina". Depois de um aperto de mão, ele me permitiu ser uma ouvinte no curso. Mais tarde, todos os selecionados entenderam que o aperto de mão era a chave para ele decidir quem seria admitido no curso.
Anselmo foi diretor da escola "Martins Pena" entre 1988 a 1990. Quando foi convidado, embora não tivesse nem a formação, nem a experiência, dormiu na escola por uma noite e, na manhã seguinte chegou à liderança por intuição. Pelo o curto tempo em que estava na escola, aboliu o vestibular. E decidiu que quem tivesse interesse em participar do grupo, primeiramente deveria, durante uma semana, assistir às aulas e nesse mesmo tempo os professores fariam uma avaliação do candidato. Como o próprio Anselmo não tinha formação em escola de teatro, assistiu a várias aulas regulares para assimilar novos conhecimentos, causando estranhesa nos outros professores por ter uma posição de direção e participar com os alunos das palestras.
Em 44 anos de carreira, a partir de sua experiência no Living Theater nos anos 70, que causou um impacto profundo nele, Anselmo Vasconcellos está mais interessado no compartilhamento de ideias e conhecimentos, no estudo aprofundado de certos temas e experiências. A performance é para ele instrumento de improvisação em que o ator encontra novas formas e expressões físicas.
Enquanto impôs uma disciplina rígida sobre si para sobreviver durante 44 anos de carreira, a única palavra não associada com Anselmo é “controle”. Atrevo-me a chamá-lo de modo familiar, porque a cultura do Rio requer imediatismo na relação, que é reforçada pela atitude amigável do próprio Anselmo. A oficina acontece duas vezes por semana, no período de quatro horas, e Anselmo está sempre presente e pontual. Saindo às 4h30 da madrugada para escapar do tráfego e desfrutar do nascer do sol. A única coisa que ele exige na oficina é a presença de todos. Quando tem gravação na televisão, Anselmo normalmente é capaz de assegurar sua presença nos dias que tem oficina. Isso reforça a atitude com os compromissos que assume.
Seu maior desejo é que os participantes mudem suas vidas de uma forma criativa após participarem da oficina, porém, confirma que infelizmente só alguns deles, como alunos regulares, voltam para a escola.
O nome Oficina Libre foi escolhido em associação ao coquetel Cuba Libre. Crescendo em uma família em que o pai tinha crenças comunistas, fez o próprio Anselmo odiar o capitalismo e seu desenvolvimento moderno degenerado – que aprisiona os seres humanos dos mecanismos da sociedade de consumo e define sua existência com a ditadura do capital. Em um país de contrastes brutais em termos sociais como o Brasil, esse tipo de pensamento não é como sons surrados de um livro de agitador da antiga União Soviética. Como Karl Marx já disse, “seu ser social é que determina sua consciência” – aqui o fosso entre os muitos desfavorecidos e poucos privilegiados, entre os quais ainda não existe uma grande e estável classe média para equilibrar, é imenso. Cuba Libre misturando num jeito atrevido rum cubano com um símbolo do capitalismo "Coca Cola", é a ideia de interpretação livre da divisão do mundo que fascina Anselmo, escolhendo a palavra espanhola, como nome de seu curso.
Anselmo Vasconcellos é ator de mais de 50 longas-metragens – "Se segura, malandro!" e "Bar Esperança", de Hugo Carvalho, "A República dos Assassinos", de Miguel Faria Jr ., "Brasília 18%", de Nelson Pereira dos Santos, e, seguramente, com o mesmo número de telenovelas na Globo, professor e escritor, que, durante 11 anos, ministrou, quatro vezes por ano, a oficina – que tem duração de dois meses – em uma das salas da escola. O curso é financiado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em sua última turma, Anselmo trabalhou sem receber, para expressar solidariedade com a ocupação.
Eu entrei na Oficina Libre depois de ver um anúncio para "curso livre de teatro". A audição durou cinco minutos. E nesse tempo tive a oportunidade de recitar o meu desejo em conhecer o teatro por dentro, porque amo o teatro e escrevi sobre isso na Bulgária. Anselmo me disse que ensinava muito pouco o teatro clássico. Disse ainda que seria muito importante aproximar-me da cultura do Brasil. Anselmo explicou que os temas, os métodos e as práticas que ele ensina ainda não são tão populares no Brasil. Ensina “o que não aprendeu ainda e aprende junto com os participantes da oficina". Depois de um aperto de mão, ele me permitiu ser uma ouvinte no curso. Mais tarde, todos os selecionados entenderam que o aperto de mão era a chave para ele decidir quem seria admitido no curso.
Anselmo foi diretor da escola "Martins Pena" entre 1988 a 1990. Quando foi convidado, embora não tivesse nem a formação, nem a experiência, dormiu na escola por uma noite e, na manhã seguinte chegou à liderança por intuição. Pelo o curto tempo em que estava na escola, aboliu o vestibular. E decidiu que quem tivesse interesse em participar do grupo, primeiramente deveria, durante uma semana, assistir às aulas e nesse mesmo tempo os professores fariam uma avaliação do candidato. Como o próprio Anselmo não tinha formação em escola de teatro, assistiu a várias aulas regulares para assimilar novos conhecimentos, causando estranhesa nos outros professores por ter uma posição de direção e participar com os alunos das palestras.
Em 44 anos de carreira, a partir de sua experiência no Living Theater nos anos 70, que causou um impacto profundo nele, Anselmo Vasconcellos está mais interessado no compartilhamento de ideias e conhecimentos, no estudo aprofundado de certos temas e experiências. A performance é para ele instrumento de improvisação em que o ator encontra novas formas e expressões físicas.
Enquanto impôs uma disciplina rígida sobre si para sobreviver durante 44 anos de carreira, a única palavra não associada com Anselmo é “controle”. Atrevo-me a chamá-lo de modo familiar, porque a cultura do Rio requer imediatismo na relação, que é reforçada pela atitude amigável do próprio Anselmo. A oficina acontece duas vezes por semana, no período de quatro horas, e Anselmo está sempre presente e pontual. Saindo às 4h30 da madrugada para escapar do tráfego e desfrutar do nascer do sol. A única coisa que ele exige na oficina é a presença de todos. Quando tem gravação na televisão, Anselmo normalmente é capaz de assegurar sua presença nos dias que tem oficina. Isso reforça a atitude com os compromissos que assume.
Seu maior desejo é que os participantes mudem suas vidas de uma forma criativa após participarem da oficina, porém, confirma que infelizmente só alguns deles, como alunos regulares, voltam para a escola.
O nome Oficina Libre foi escolhido em associação ao coquetel Cuba Libre. Crescendo em uma família em que o pai tinha crenças comunistas, fez o próprio Anselmo odiar o capitalismo e seu desenvolvimento moderno degenerado – que aprisiona os seres humanos dos mecanismos da sociedade de consumo e define sua existência com a ditadura do capital. Em um país de contrastes brutais em termos sociais como o Brasil, esse tipo de pensamento não é como sons surrados de um livro de agitador da antiga União Soviética. Como Karl Marx já disse, “seu ser social é que determina sua consciência” – aqui o fosso entre os muitos desfavorecidos e poucos privilegiados, entre os quais ainda não existe uma grande e estável classe média para equilibrar, é imenso. Cuba Libre misturando num jeito atrevido rum cubano com um símbolo do capitalismo "Coca Cola", é a ideia de interpretação livre da divisão do mundo que fascina Anselmo, escolhendo a palavra espanhola, como nome de seu curso.
Cada segunda-feira o curso começa exatamente às 8h30 com o cheiro de Palo Santo, um gole de água e batendo palmas em uníssono. Antes disso, Anselmo já tinha deixado que os ensinamentos se dispersassem da cabeça e fica ‘despreparado’, como gosta de dizer, para sentir o que este momento vai trazer. A palestra começa com uma ideia que flui sem problemas em outra; ele fala sobre os hábitos alimentares do homem moderno, depois surpreendentemente mergulha de volta no tempo para a história da antiga tragédia grega, nos deixa animados com detalhes desconhecidos da vida de uma cultura pouco conhecida em todo o mundo, toca em temas sensíveis da realidade brasileira, compartilha memórias pessoais e momentos de trabalho com outros atores locais, e verifica se os participantes da oficina não dormem com perguntas inesperadas.
A sensação é que tenho testemunhado um showman mais genuíno, um homem encantador que atua diante de nossos olhos, porque deixa a intuição e lógica natural de seu discurso levá-lo para a frente. Mas ele é um ator habilidoso – sua voz baixa atrai tudo, tanto quanto possível mais perto de si, veludo toque acaricia os sentidos, seus escuros olhos brilhantes, faíscas de luz naqueles que se encontram e alimentam a sua energia. O sotaque típico carioca, abundando de ‘sh’, acrescenta a suavidade na voz dele.
Na segunda-feira, Anselmo apresenta ideias diferentes, que juntos as exploramos, discutimos várias técnicas sobre as quais ele fala e desenvolvermos novas
idéias para o teatro. Há muito tempo ele queria
integrar a Oficina com os outros
cursos na escola Martins Pena, porque não
é um defensor da separação entre grupos de estudantes. Se eles podem circular
livremente entre as especialidades, vão ganhar mais
e variado conhecimento. Provavelmente por isso que o curso tem poucos alunos de
"Martins Pena." Para Anselmo não há
‘caminho correto’ que temos que seguir – o nosso caminho correto é uma função
de todos nós juntos. E enquanto estamos explorando a realidade
de que o teatro cria na sua interação com a gente, tentamos chegar mais
perto do processo criativo, não do resultado dele.
Anselmo acredita na teoria do Yoshi Oyda sobre o ator
invisível, que o japonês desenvolveu
em seu livro de mesmo nome. Segundo Oyda, quando o
espectador percebe o método de atuação do ator e é tão próximo
quanto possível a ele, passa a ser
subserviente à magia do desempenho. O espectador nunca deve ver o ator, mas só seu
desempenho, sua personagem. Anselmo
não acredita naqueles colegas que
dizem que podem apresentar qualquer
tipo de personagem no palco, mas nunca
podem ser diferentes na vida fora do
palco. O ator
deve sentir e não atuar em seu
personagem. A menos que ele atue, entre na história, vive
dentro da história e, portanto, ajude os
espectadores a viver nela também.
Nesse sentido, cada participante da Oficina Libre
pode determinar quando vê Anselmo – o homem e o ator. Ele
sempre mostra interesse e empatia no outro,
pronto para partilhar os seus pensamentos, mas, ao mesmo tempo, consegue
manter uma distância quase imperceptível. Enquanto assisti a pitoresca reinvenção de algumas de suas
memórias e, em seguida, a explicação que muitas foram reforçadas ou
inventadas, eu pensei sobre os limites elásticos e quebradiços
entre o desempenho do ator, a personalidade autêntica por trás dele e vontade
de contar uma história verdadeira
inventando partes dela.
Segunda-feira é hora de exercícios de
concentração, comunicação, parceria com outros, atenção ao que está acontecendo
ao nosso redor "no palco" e
improvisação, esboços para criar imagem e ação de várias pessoas, com base em um gesto comum, estudo de
reação individual contra
circunstâncias, exercícios de ritmo, voz,
comunicação com empatia e muitos,
muitos, muitos abraços longos que causam a produção de ocitocina e, assim, relaxar, sentir mais seguro
e diminuir nossos medos e
preocupações.
Na segunda-feira discutíamos o tema do
nosso encontro na terça-feira, quando é a performance. Durante a
primeira Oficina, da qual participei
como ouvinte, selecionávamos várias
provocações como ponto de
partida: dança Butoh ou o que significa
intimidade (todos nós
escrevemos um texto explicando
nossos pensamentos no assunto e compartilhamos com os outros). Durante
a segunda
Oficina, em que ganhei o
direito de ser uma
participante regular, escolhemos
apenas uma cor comum de roupa, ao
invés de um tema. Não tem plano definido de conduta
a ser repetido em cada curso na Oficina Libre. Nesse estava
convencida de dois cursos.
Para Anselmo, é muito importante libertar o ator da
tensão do pensamento "quando e como ele será apresentado ao público"
e, portanto, lhe deu essa chance na primeira
semana. Além disso, o participante é completamente
livre dentro da preformance, cujo único
elemento especificado é o começo, e saber o
que é o sinal de que vai colocar no fim.
Antes de cada apresentação, que dura em média 20 minutos, deve ser
feito cartografia do show. É formada com palavras que carregam um significado e
sugestão especial para aqueles que as oferecem.
Muitas vezes inspirados por temas discutidos na segunda-feira ou algo em que um
dos participantes está especulando neste
momento e gostaria de explorar. Todos juntos decidimos qual será a
iluminação e se haverá música. Na primeira Oficina Libre, um
participante apresentou uma
"trilha sonora", com músicas aleatórias. Surpreendentemente, a
maioria deles ilustrava palavras de cartografia. Na segunda, raramente havia música e as
participantes falavam muito mais.
A principal tarefa de todo o curso, especialmente durante
a performance, é como se
conectar com os outros, como se engajar em algo que não sabemos o que é, mas
temos que construí-lo todos juntos.
Anselmo nos impele sempre a olhar para os outros, para não
"brincar" muito tempo sozinho ou em pares. E, ao invés de
competir, ajudar os outros a crescer. Ao mesmo tempo convidar o espectador a
participar da performance de forma
conveniente, para ajudá-lo a se tornar
uma testemunha do que está acontecendo.
Anselmo acreditava que o teatro deve ser político. Estimulando os
espectadores a uma posição ativa, estimulando o ator a envolver o espectador
que já foi preparado
por anotação, o que
pode esperar da peça e que não tem o direito de se mover ou
comentar, mas, apenas passivamente, observar num
teatro clássico, em um espetáculo de provocações
físicas que Anselmo incentiva.
Imperceptivelmente
ele ajuda os indivíduos a participar ativamente
na sociedade.
Será que a pessoa
opta por reproduzir o que já
foi produzido ou para educar e desenvolver-se como uma pessoa original? Se opta
por se tornar uma cópia ou seguir um caminho original? São questões
importantes com as quais Anselmo provoca os jovens e não
tão jovens almas que participam da Oficina. Hoje, a
cultura popular promove a hegemonia da personalidade única,
original, mas Anselmo acredita
que quanto mais somos obrigados pela personalidade, menos elásticos e mais fechados somos. Ele
incentiva todos a não levar a performance muito a
sério, porque de um erro
inesperdao pode nascer algo genuíno e belo.
Anselmo quer sair do textocentrismo no teatro,
para limpá-lo de tudo que é
desnecessário,
como cenários, figurinos e músicas. Quer colocar, no centro,
o ator e o corpo dele, junto com o
espectador, que é igual como o autor do espetáculo. Portanto,
a Oficina busca jovens
atores ou simplesmente seduzidos pelo teatro, pessoas com
diferentes profissões, dançarinos, músicos, poetas. Para ele, melhor ator
torna-se adulto índigo - alguém que
desenvolve uma inadaptação forte às condições sociais e da sociedade e torna-se severamente
crítico da realidade.
A segunda Oficina é realizada
com um novo módulo na segunda-feira – Anselmo pede para
escolher três textos – "As bacantes", de
Eurípides, "Rei Lear", de Shakespeare e "A dama da lotação", do
dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. Nós nos dividimos em três
grupos para discutir como apresentar no palco o essencial
do texto. De acordo com Anselmo, assim vamos
praticar o comunismo em sua forma mais pura. A palavra
não deve prender a respiração – na sociedade brasileira em desenvolvimento
em que a divisão de classes ainda é clara e categórica, ideais de
fraternidade, igualdade e uma troca que não está sujeita necessariamente ao
princípio de mercado, existem fora da falha da ideologia comunista
na nossa parte
oriental do mundo. Ao trabalhar com textos, todos têm
direito de serem diretores e atores principais com os
outros.
Não sei por que escolhi
"As bacantes"
– talvez
porque minhas memórias na adolescência, da antiga
tragédia grega, pesem o
sentimento que tentei abordar algo quando não estive pronta para isso. Nem pensei que a
tradução, para o português,
dificilmente faria o texto de
Eurípides mais simples para
que entender. Projeções
políticas e sociais das "Bacantes"
ficaram um pouco longe de mim, mas aceitei
com braços abertos a intoxicação
do vinho e do calor dos corpos dos meus colegas e embarcamos
em várias segundas-feiras com um pouco de timidez –
especialmente tendo em mente a cultura
carnavalesca dos
cariocas – interpretações
de bacanais. Porque não sou Anselmo,
eu me permito dizer que acho que o
nosso grupo nunca foi capaz de sair além das bacanais e
mostrar momento político da peça. Para mim, as outras duas interpretações -
"Rei Lear" e "Dama da lotação",
desenvolveram pequenas essências
bem sucedidas de ideias básicas das peças.
Foto por Maria Arêas A oficineira Samanta Sironi em solo. |
Outro desafio, sugerido por Anselmo, foi fazer um solo
de não mais que 10 minutos em que deveríamos
exercer a
nossa aprendizagem de texto que escolhemos. Um desafio duplo,
porque, além disso, tivemos que ensaiar
sozinhos. O ensaio é repressão da
expressão livre e espontânea, diz Anselmo. No ensaio o ator
tem que encontrar o momento
perfeito na sua apresentação e fixar,
armazenar e, em seguida, reproduzi-lo. Mesmo tentando fazê-lo organicamente,
pois corre o risco de mecanização.
A maioria dos participantes
mostrou coragem para
enfrentar o público e suas próprias ambições e medos. Estávamos todos genuínos, alguns – mais
talentosos e bem sucedidos, outros – nem tanto, mas como um
deles disse:
"Todo mundo quer ser Meryl Streep, mas é claro que nem todo mundo
pode." Eu, pessoalmente, esqueci o meu monólogo e fiz só
a segunda parte do solo que era uma improvisação minha no texto do monólogo. Eu não
tenho ideia do porquê, apesar disso,
finalmente, me senti eufórica e feliz,
apesar do fracasso no estrito senso de missão e desempenho. Inspirados e felizes dizíam como se sentiam
os outros "solistas".
Nossa última apresentação – antes do
final esperado da oficina – foi
extremamente emocionante. Das quase 40 pessoas
que começaram, poucas se recusaram no
caminho e, de
acordo com Anselmo, desta vez o grupo foi
extremamente forte, motivado e respondendo surpreendentemente bem. Havia muitos
abraços, beijos, partilha pessoal, uma
sensação de proximidade com os outros durante os dois meses da
Oficina - tudo isso simplesmente
explodiu no última performance
e a conversa depois dela. Eu pensei
que esse era o começo de
uma boa amizade com, pelo menos, 4 a 5 pessoas. Senti que havia conseguido uma brecha
no vasto e difícil de ser engolido no Brasil, para
me sentir em casa – em que
existam aqueles que
respiram o mesmo ar que eu e que busquem
semelhantes.
Mas esta ideia rapidamente se dissolveu como o
pólen de sopro, que forma uma mandala pacientemente. Talvez porque a cultura
aqui é tal – emoções são
desencadeadas rapidamente, alimentando um ao outro, para formar algum clímax
intenso e ardente e depois se
dispersam rapidamente. Ao término, parece que as
pessoas viram as
costas, é hora de procurar um novo, possivelmente em outros lugares. Nesse
jeito, os
espetáculos do teatro são feitos aqui. Não há teatros de
repertório – um espetáculo é jogado em média 3
meses antes de sair de cena.
Alguns fenômenos sobrevivem vários anos.
As primeiras semanas, após Oficina Libre, foi
terrivelmente triste por causa do que percebi no
final, mas
lembrei-me das palavras de Anselmo que a maioria dos
participantes a esquece, embora jurem depois de
cada performance que suas vidas não têm aquele senso de
empatia, amizade, partidariedade que existe na sala da
Oficina. Depois de
28 anos em que ele estava orgulhoso como funcionário público da escola
"Martins Pena," Anselmo especulou que talvez seja hora de acabar com a oficina,
especialmente depois de um final mais do que feliz, de uma Oficina Libre bem sucedida.
Entre os participantes da oficina havia poetas,
dramaturgos, dançarinos, cantora de hip-hop,
ativista política do Peru. Uma das personalidades mais coloridas para mim foi Moacir Araujo, 71
anos, ator e
poliglota – fala oito idiomas.
Ele era um dos poucos que estava escrevendo numa
caderna pensamentos dos discursos de Anselno durante a Oficina. Ele afirmou
que a vida inteira estava tentando ser
um ator, e aqui, na Oficina, começou a aprender como parar de atuar e simplesmente
ser seu personagem.
Foto por Anderson Nascimento Pio Rodrigo Varanda em solo. |
Rodrigo Varanda, dublador de filmes e desenhos animados e músico, descobriu a Oficina Libre em
2012. Dentro dela, achou “uma realidade ampla,
profunda e transformadora. Tradições milenares, não raro, são esmiuçadas entre
os presentes e vem dessa parte, o mais incrível: as conclusões (e também as
novas dúvidas) dos oficineiros que passam a não
caber somente no mundo das artes. Os questionamentos sobre moral, religião e
valores sociais do ator performático, estimulam cada
participante, turma após turma, a desenvolver o hábito de conquistar verdades
legítimas ao invés de limitarem corpo e mente em convenções repetitivas e
equivocadas, que parecem, muitas vezes, completamente verídicas. Para quem se
permite, o produto final é um humano capaz de interpretação com entrega
completa, desprendida de pudores vazios, capazes de
empobrecer violentamente um espetáculo, por melhor que ele seja”.
Foto por Maria Arêas Daisy Viana da Silveira em solo |
Daisy Viana da Silveira, 22
anos, está
orgulhosa, pois conseguiu superar um pouco a timidez quando decidiu fazer o solo proposto por Anselmo. "Eu gostei de todo o aprendizado, principalmente por Anselmo ter me ensinado a pesquisar sobre todos os assuntos. Também aprendi que devemos ser nossos próprios diretores, atores, escritores. E me abriu portas com certeza. A primeira delas foi a moça que chamou para fazer a figuração do filme “Praça Paris”.
Foto por Anselmo Vasconcellos Danny Greco |
Atriz, cantora e dançarina Danny Greco – "A
Oficina Libre teve um papel muito importante na reconstrução do meu eu enquanto
artista e fazedora de cultura. O espaço aberto por Anselmo Vasconcellos, me
possibilitou a reinserção em linhas artísticas que estavam adormecidas em meu
corpo, muitas janelas foram reabertas e reestruturadas. O contato com o outro e
a troca livre durante as improvisações foram importantes na construção de
outros diálogos, de improvisações, de outros campos de possibilidade na minha
atuação artística. Durante o percurso filmei um curta com a Mariane Antabi, da Escola
de Cinema Darcy Ribeiro, com mais dois colegas da Oficina. Foi uma experiência
incrível, pois já tínhamos intimidade para o roteiro em questão.”
Um agradecimento especial a Anselmo Vasconcellos e aos participantes da Oficina Libre Maria Áreas e Anderson Nascimento Piu e o fotógrafo Kenzo Katche Verborge por fornecer as fotos. Um agradecimento muito especial a Valquiria Stoianoff pela ajuda indispensável na tradução e pelo carinho.
Um agradecimento especial a Anselmo Vasconcellos e aos participantes da Oficina Libre Maria Áreas e Anderson Nascimento Piu e o fotógrafo Kenzo Katche Verborge por fornecer as fotos. Um agradecimento muito especial a Valquiria Stoianoff pela ajuda indispensável na tradução e pelo carinho.